Após o índice desastroso de aprovação nas provas realizadas pelo
Conselho Federal de Contabilidade (CFC) no primeiro semestre de 2011, a
segunda avaliação demonstrou maior empenho dos novos contadores
Com tempo ampliado para se preparar e experiência adquirida nas
provas anteriores do Exame de Suficiência, a contadora Ejane Maria Lima
Duarte, de 50 anos, conseguiu encaminhar o seu pedido do tão sonhado
registro da profissão. Depois do frustrado resultado na primeira edição
do exame, realizado em maio deste ano, ela resolveu se dedicar mais e
estudar as matérias com maior grau de dificuldade. Para ela, a segunda
avaliação foi mais bem elaborada e com questões complexas, pois exigiram
conhecimento teórico dos candidatos, principalmente quanto às Normas
Internacionais de Contabilidade e suas atualizações. “Em comparação ao
primeiro, achei mais difícil”, comenta.
A nova contadora terminou a faculdade no Centro Universitário
Metodista do IPA, no segundo semestre de 2010. Para não correr o risco
de não passar novamente, buscou um curso preparatório para relembrar
aquelas matérias vistas nos primeiros semestres do curso. As dicas e as
atualizações sobre as normas contábeis foram essenciais para o seu
desempenho.
A segunda versão do Exame de Suficiência foi realizada em todo o País
no dia 25 de setembro e o resultado publicado no dia 28 de outubro no
Diário Oficial da União. Nesta edição, 23.836 pessoas fizeram a
inscrição, sendo 19.721 bacharéis e 4.115 técnicos. Em todo o Brasil,
10.129 bacharéis em Ciências Contábeis obtiveram aprovação, o que
corresponde a 54,18%, contra os 30,83% da edição anterior, uma melhora
de 23,35% no índice de aprovação. Quanto aos técnicos, apenas 1.067
conseguiram o registro, o que representa 27,87% contra 24,93% do
resultado passado, um crescimento pouco significativo de 2,94%.
O contador recém-formado Ademar Oliveira Flores Junior, 26 anos,
comemora a aprovação na sua primeira avaliação. Para ele, as provas
foram muito boas para o nivelamento dos profissionais, e admite que
teria achado as provas difíceis se não tivesse se dedicado e estudado
com afinco. “Fiz um curso intensivo após a faculdade, me dediquei a
estudar a contabilidade pública, pois fazia muito tempo que não via essa
matéria”, comenta. Flores Junior tem convicção de que não pode jamais
parar de estudar, pois a profissão exige constante aperfeiçoamento. Ele
já programa para 2012 uma pós-graduação na área de Controladoria.
Conselhos acreditam que os profissionais estão mais atentos às provas
Após resultado considerado ruim pelos especialistas na primeira
avaliação de conhecimentos dos contadores, o Conselho Federal de
Contabilidade (CFC) apostou na preparação dos candidatos para a segunda
edição. Na opinião do presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro, este
percentual de aprovação demonstra que os candidatos estão melhor
preparados e atentos à importância do exame. “A resposta aparece de
forma satisfatória, pois temos certeza de que estamos cumprindo com o
nosso papel de fiscalização preventiva, uma vez que permitimos o acesso
ao exercício profissional de pessoas que apresentaram uma capacitação
adequada”, afirma. Carneiro considera bom o percentual de aprovação na
comparação com o primeiro, mas ainda está muito abaixo do esperado.
“É lógico que, quanto mais valorizada for a profissão, maior será a
demanda de trabalho para os profissionais”, pontua o presidente,
enfatizando que o cenário contábil está sendo visto de uma maneira
diferente por parte das instituições de ensino, órgãos governamentais,
empresas da iniciativa privada, terceiro setor e sociedade em geral.
O resultado foi considerado bom por todas as lideranças do Sistema
CFC/CRCs. Apesar disso, o presidente do Conselho Regional de
Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC-RS), Zulmir Breda, foi
cauteloso em sua análise. Acredita que a comparação entre os resultados
somente permitirá uma conclusão apropriada depois da quarta ou quinta
edição, isso porque, segundo ele, os percentuais de aprovação podem
sofrer diversas influências de uma edição para a outra e distorcer a
comparação.
Gaúcho foi segundo melhor colocado no Rio Grande do Sul e sexto no Brasil
Ex-aluno da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(Pucrs), Felipe Klein Dias recebeu com surpresa a notícia da sua
classificação nas provas do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que
teve 85% de acertos. “Fico muito feliz, já que isso significa que o
curso foi bom e meu esforço valeu a pena”, comenta. Dias formou-se em
Contábeis em janeiro de 2011 e realizou as provas do CFC em maio deste
ano. Para ele, toda pessoa que quer ter sucesso não deve ficar restrita
aos ensinamentos ministrados em sala de aula. Para ele, os conhecimentos
extraclasse são os mais interessantes e é necessário se aprofundar nos
assuntos.
Dias sabe disso como ninguém, pois o curso de Contabilidade não foi
sua única opção. Aos 27 anos, é formado também em Administração e
Direito e acredita que a soma dos conhecimentos dessas doutrinas o
levaram a um resultado positivo. O empenho, o estudo e a dedicação são
as receitas do gaúcho que hoje trabalha na AES Brasil, na área de
Planejamento Tributário, em São Paulo.
Com relação ao nível do teste, Dias considerou uma prova equilibrada.
“Foram 30% de questões difíceis, 30% de questões fáceis e 40% de
questões medianas”, classificou. Segundo ele, as provas abordaram todas
as matérias do curso de graduação. “Creio que o número de questões e o
tempo de realização da prova foram adequados e suficientes para avaliar o
nível mínimo exigido dos profissionais de contabilidade”, resume.
Instituições necessitam aprimorar as práticas de ensino
As avaliações que medem o conhecimento de alunos e profissionais
acabam colocando em xeque a qualidade do ensino no País. Atualmente,
existem no Brasil 1.200 faculdades de Contabilidade. Os resultados das
últimas provas dos Exames de Suficiência provocaram reflexões aos
gestores das instituições de ensino.
Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), por
exemplo, de acordo com o coordenador do curso de Ciências Contábeis,
Saulo Armos, as mudanças estão contempladas no Projeto Pedagógico,
preparando o acadêmico para pensar e interpretar a Ciência Contábil.
“Desenvolvemos ações com ferramentas de gestão informatizadas por
sistemas atualizados, idênticos aos encontrados nas empresas em que os
alunos atuarão, através de Laboratórios de Informática, permitindo aos
estudantes a reflexão sobre os resultados apurados”, comenta o
professor, preocupado com o novo formato da contabilidade moderna.
“Nessa transição passamos a mensurar e julgar o patrimônio das
empresas”, salienta, ao destacar a necessidade do preparo do contador.
“Como vivenciamos esse momento de transformação, o mínimo que devemos
colocar para nossos formandos é a permanente evolução do conhecimento.
Devemos aconselhá-los a estudar, se capacitar e se aperfeiçoar”,
aconselha.
A coordenadora do curso de Ciências Contábeis do Centro
Universitário Metodista do IPA, Neusa Monser, acredita que as
instituições estão conscientes sobre a importância da qualidade de
ensino e as coordenadorias estão em busca dessas melhorias.
O presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Juarez
Domingues Carneiro, diz que os resultados demonstram que as instituições
não estão aptas a atender às necessidades do mercado, pois “não possuem
uma boa biblioteca e os laboratórios deixam a desejar”. O último
resultado do exame, em sua opinião, não significa que as instituições
estejam mais qualificadas, demonstra apenas que os candidatos se
prepararam. Apesar disso, Carneiro aposta na melhoria dos cursos.
A avaliação do professor e diretor do Instituto Insero Educação
Corporativa, Wilson Riber Hamilton Danta, é bastante dura com relação à
qualidade dos profissionais. “Ao analisarmos os resultados anteriores,
mais precisamente as disciplinas cernes do curso, notamos que o
desempenho é pior do que se pensa. O mau resultado não está restrito às
matérias complementares, mas àquelas que formam o profissional”, lamenta
o professor que coordenou um dos cursos preparatórios.
Na análise de desempenho por estado, de acordo com Danta, em nenhum
dos 26 estados da União houve aprovação acima de 50%, seja para
bacharéis ou para técnicos. Segundo ele, o desempenho dos alunos está
atrelado à própria evolução do curso. De acordo com dados do censo de
2009 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), o curso de Ciências Contábeis encontra-se entre os
dez maiores cursos superiores do País, mais precisamente na sexta
posição, com 235.274 matrículas em 2009, representando um crescimento em
relação a 2005 de 34%.
Por Gilvânia Banker
Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=80014